Há 4,5 bilhões de anos a Terra se formava entre explosões de gases tóxicos e altas temperaturas. Assim também ocorreu com os outros planetas do nosso sistema solar, repetindo o ciclo de criação do universo. Porém, passados alguns bilhões de anos, a Terra, ainda "jovenzinha" começou a se distinguir de seus irmãos. Com o resfriamento da temperatura, formou-se uma pequena crosta na superfície. A água resfriada, pode assumir a forma líquida e todos esses fatores, em comunhão propiciaram a origem da vida.
Ao olharmos ao nosso redor, podemos perceber as formas que a vida achou para continuar sua evolução. Grandes, pequenos ou microscópicos seres encontram-se aos milhares em nosso planeta e ainda assim, essa explosão de vida não chega a cessar nem por um instante...
A preservação do solo, dos rios da fauna e da flora remetem apenas a preservação da espécie que as destrói, não havendo assim uma elucidação para um fato muito mais importante: a preservação de uma existência harmoniosa entre todos os seres.
Não mais como nossa morada, a Terra será vista daqui por diante como um organismo vivo onde milhões de fenômenos maravilhosos ocorrem.
Antes do século XIX, até, mesmo os cientistas sentiam-se confortáveis com a noção de uma Terra viva. Segundo o historiador D. B. Mclntyre (1963), James Hutton, normalmente conhecido como o pai da geologia, disse numa palestra para a Sociedade Real de Edimburgo na década de 1790 que considerava a Terra um super organismo e que seu estudo apropriado seria através da fisiologia. Hutton foi mais adiante e fez a analogia entre a circulação do sangue, descoberta por Harvey, e a circulação dos elementos nutrientes da Terra, e a forma como o sol destila água dos oceanos para que torne a cair como chuva e refresque a terra.
Dois cientistas, entretanto, pensaram de forma diferente; um deles foi a eminente bióloga Lynn Margulis e o outro o geoquímico Lars Sillen. Lynn Margulis foi minha primeira colaboradora (Margulis e Lovelock, 1974).
Lars Sillen morreu antes que houvesse uma oportunidade. Foi o romancista William Golding (comunicação pessoal, 1970) quem sugeriu usar o poderoso nome Gaia para a hipótese que supunha estar viva a Terra.
Nele, o crescimento competitivo de plantas e outros organismos.
A teoria de Gaia vê a biota e as rochas, o ar e os oceanos como existências de uma entidade fortemente conjugada. Sua evolução é um processo único, e não vários processos.
A teoria de Gaia também amplia a ecologia teórica. Colocando-se as espécies e o meio ambiente juntos, algo que nenhum ecologista teórico fez, a instabilidade matemática clássica de modelos de biologia populacional está curada.
Pela primeira vez temos, a partir desses modelos novos, modelos geofisiológicos, uma justificativa teórica para a diversidade, para a riqueza rousseauniana de uma floresta tropical úmida, para o emaranhado banco darwiniano.
Esses novos modelos ecológicos demonstram que à medida que aumenta a diversidade, também aumentam a estabilidade e a resiliência. Agora podemos racionalizar a repugnância que sentimos pelos excessos aos negócios agrícolas. Finalmente temos uma razão para nossa ira contra a eliminação insensata de espécies e uma resposta para aqueles que dizem tratar-se de um mero sentimentalismo.
Não precisamos mais justificar a existência de florestas tropicais úmidas sobre as bases precárias de que elas podem conter plantas com drogas capazes de curar doenças humanas. A teoria de Gaia nos força a ver que elas oferecem muito mais que isso. Dada sua capacidade de evapotranspirar enormes volumes de vapor d'água, elas servem para refrescar o planeta propiciando-lhe a proteção solar de nuvens brancas refletoras. Sua substituição por lavoura poderia precipitar um desastre em escala global.
Um sistema geofisiológico sempre começa com a ação de um organismo individual. Se esta ação for localmente benéfica para o meio ambiente, ela então poderá se difundir até que acabe resultando um altruísmo global. Gaia sempre opera assim para atingir seu altruísmo. Não há previsão ou planejamento envolvido. O inverso também é verdadeiro, e qualquer espécie que afete o meio ambiente desfavoravelmente está sentenciada, mas a vida continua.
Relação do ser humano com o planeta
As reações do planeta às ações humanas podem ser entendidas como uma resposta auto-reguladora desse imenso organismo vivo, Gaia, que sente e reage organicamente. A emissão de gáses, a forma como se lida com a terra, desmatamentos dos biomas importantes, a concentração de renda, o consumismo e a má distribuição de terra podem causar sérios danos ao grande organismo vivo e aos outros seres vivos, inclusive ao ser humano. Por conta disso, há uma a intensificação de fenômenos climáticos, a miséria e a exclusão humana.
Apesar das dificuldades de definição do que é a vida no mundo científico, essa teoria é uma nova forma de se entender o meio ambiente, pois se sabe que o ser humano faz parte do todo e que o planeta é um ser que se auto-regula. A Terra é uma interação entre o vivo e o não-vivo. Precisamos perceber que fazemos parte de um organismo vivo que se auto-regula e interage com os outros seres.